Crítica | Lady Bird: A Hora de Voar (Lady Bird) [2017]

Nota do filme:

A tensão do ensino médio, a escolha da faculdade certa, vergonha dos pais, o primeiro contato sexual, o sentimento de estar sempre certo. A adolescência pode ser um período doce para alguns, amargo para outros, porém é nesse período que aprendemos a moldar o nosso caráter e postura como adulto. A diretora e roteirista Greta Gerwig (Co-escritora e protagonista de Frances Ha) faz um belo passeio na adolescência americana.

Situado em Sacramento, Califórnia, ano 2002, o longa aborda sobre a jovem de 17 anos Christine “Lady Bird” McPherson (Saoirse Ronan) — baseado na própria adolescência da diretora — estudante do secundário que busca boas notas para conseguir ingressar na faculdade dos sonhos. Além disso, precisa conciliar a árdua tarefa de se comportar no rígido colégio católico, ser aceita pelos amigos ricos e lidar com sua mãe até a formatura.

Filmes “coming-of-age“ (fim da adolescência) costumam ter a estrutura narrativa familiar, tendo base em assuntos como: namoros superficiais, sexo, bebidas, amizades, depressão. Greta Gerwig também passa por esses cenários, porém ela faz um trabalho mais intimista. Gerwig fica atenta ao menores detalhes: bom exemplo disso é quando a protagonista sente uma queda por uma menino do coral, e como prova de interesse, escreve o seu nome na parede de seu quarto, a vergonha de morar em um bairro pobre, discussões repentinas com sua mãe e após dois segundos, esquecer totalmente que aquilo aconteceu, o sentimento de desbravar o mundo afora e mostrar independência para os pais, saber que a família está em crise e se sentir culpada por isso. Essas nuances fortalecem o nosso vínculo com a personagem tornando-a mais humana.

Saiorse Ronan é o coração do filme e consegue ter a capacidade de ser carismática, rebelde e impulsiva durante boa parte da projeção. Os momentos com sua melhor amiga Julie Stefans (Bennie Feldstein) são recheados de intimidades e descobertas, há também momentos de crise que fortalecem a amizade das duas. Mesmo sendo rígida, ranzinza e grossa, a excelente Laurie Metcalf – Você provavelmente conhece a atriz por ser a mãe de Sheldon na série Big Bang Theory – interpreta com total maestria Marion McPherson, uma mãe trabalhadora que luta para proporcionar conforto à família. Também no elenco estão: Timothée Chalamet (Me Chame Pelo Seu Nome), Lucas Hedges (Manchester à Beira-Mar), Tracy Letts (Imperium) e Odeya Rush (O Doador de Memórias).

Lady Bird será conhecido por ser um dos grandes destaques de 2017 pelo simples motivo de não desconstruir a adolescência, e sim de lapidar o gênero e adicionar camadas que o telespectador consiga se identificar com a história e trajetória da protagonista, marcada por acertos, falhas, arrependimento, coração partido e decisões. Afinal das contas, qual adolescente é perfeito?