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CRÍTICA: A Garota Ocidental

Um intenso conflito entre a liberdade e as consequências que ela traz. Essa frase resume muito bem do que se trata o longa escrito e dirigido pelo belga Stephan Streker.

A Garota Ocidental, assertivo título nacional, nos traz uma trama calcada na emoção humana e na dualidade com a qual vivemos. A trama gira no entorno de Zahira, uma jovem de origem paquistanesa que, ao completar dezoito anos, se vê obrigada a mudar tudo o que conhece de si mesma e que está habituada em nome da tradição social e familiar que a obriga a se casar com um desconhecido, também paquistanês, aprovado pelos pais e pela comunidade.

Esse ponto de partida da trama nos faz imergir cada vez mais e entender os lados complexos das decisões dos personagens, simbolismos e texto abertamente crítico sobre costumes dentro e fora de determinada comunidade. O filme traz uma reflexão ampla sobre o papel da mulher num contexto social mundial, sobre a submissão ou não, diante da imposição das pessoas que mais ama.

Streker, dirigindo seu terceiro filme na carreira, é certeiro ao costurar, de forma quase cirúrgica cada relação de Zahira, no âmbito familiar e no âmbito social. Até mesmo uma irmã menor é usada como um artificio e está sempre orbitando, tendo papel fundamental quando a trama dá sua última virada. Diria, entretanto, que a relação mais importante é a de Zahira e Amir, o irmão mais velho e confidente da protagonista. A mesma só funciona pela escalação certeira da francesa Lina El Arabi e de Sébastien Houbani. Os dois atores dividem um tempo parecido de tela e elevam o tom, segurando o espectador ao longo dos 98 minutos de projeção.

Outros pontos que valem menção são a fotografia e a direção de arte, com um uso bastante inteligente por parte da direção em compor cada momento utilizando as cores como reflexo do emocional de cada personagem, mudando até mesmo a saturação entre uma cena e outra, contrapondo a paleta e dando prenúncios do que vai acontecer.

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Zahira – A Garota Ocidental

Cada minuto de projeção vale, apesar do ritmo lento, os temas debatidos inspiram e geram uma discussão saudável entre o que você deve fazer, entre o coletivo e o individual, entre as decisões que você toma por si e pelos outros e no peso que isso tem. Até onde vai sua liberdade e qual o direito das pessoas em interferirem nisso?

Temas complicados, abordagem realista e um final corajoso para uma história que poderia cair no mais do mesmo, entretanto isso é que faz o filme brilhar.

A Garota Ocidental estréia dia 22 de Junho.